Nos anos 80 as revistas especializadas mostravam viagens de motocicleta como verdadeiras aventuras. Mais comuns nos estados do Sul do país, por aqui eram raras. O número de motocicletas circulantes era proporcionalmente muito, muito, menor do que hoje e quase não se falava em associações de motociclistas.
Prevalecia a imagem dos “arruaceiros” Hells Angels mostrada nos filmes. Motociclistas em grupo eram do tipo gang, a imagem era negativa.
Em Itabira (MG), nossos colegas de trabalho e vizinhos não levaram a sério quando Marcelo, Marcos Paulo e eu começamos a planejar uma viagem de motocicleta para Porto Seguro. Só acreditaram mesmo quando nos viram preparando as coisas para a saída.
Era outubro de 1987, há exatamente 24 anos.
Achei que seria interessante compartilhar aquela “aventura”.
Eu e o Marcelo estávamos em nossas CB400 e o Marcos numa XL250.
No Espírito Santo ficamos três dias em Praia Grande (os mineiros até hoje a chamam de Nova Almeida) antes de seguirmos pela BR 101 rumo à Bahia.
Os trechos realçados foram o nosso trajeto, ida em azul e retorno em vermelho.
A saída de Praia Grande.
Saímos quase ao meio dia. Pegamos a BR 101 em Aracruz. Ainda não existia a ponte em Santa Cruz, a travessia era por balsa.
Eu e Marcos Paulo na divisa dos estados Bahia e Espírito Santo. Ainda com cabelos escuros! O prefixo das placas de Itabira era FP. Sem comentários.
Eu e Marcelo estávamos usando cintas de coluna, prevenção contra dor nas costas. Mas a dor mesmo foi na bunda, por causa da dureza da suspensão das CBs 400. O Marcos não teve problemas com a maciez da XL. Pernoitamos num hotel logo depois da divisa.
Impossível esquecer a temperatura quente da água daquela piscina naquele fim de tarde.
Eu e Marcelo com o Monte Pascoal ao fundo. O alforje que eu tinha (CB vermelha) era de cavalo.
No último trecho, depois do pernoite, o calor era tanto que tiramos as jaquetas de couro. Sem protetor solar, chegamos a Porto Seguro com os braços totalmente queimados e ardendo.
Lambada na praia de Taperapuâ, na área onde existe hoje o famoso Axê Moi.
Era o auge da lambada em Porto Seguro. Algum tempo depois é que se espalhou pelo Sudeste, Sul e outras regiões. Lembro-me que só alguns meses depois ouvi o ritmo em Belo Horizonte, e foi uma surpresa, pois lá, como em Itabira, o pessoal sequer sabia o que era.
Comemoramos lá (dia 24 de outubro) o aniversário de 42 anos do Marcelo. Ele faleceu em 1999, já aposentado.
Tivemos de cancelar a ida até Trancoso, pois a estrada era tão ruim que só a XL do Marcos Paulo passaria. Hoje é tudo asfalto. A curiosidade pelo nudismo ficou no sonho.
Não temos fotos do retorno. Dormimos em Governador Valadares e depois seguimos direto para casa.
Rodamos no total quase 3.000 quilômetros. Mesmo em outubro, não pegamos uma gota de chuva. Nas paradas (a cada hora ou a cada 100 km, em média) sempre ouvíamos comentários dos caminhoneiros, admirados com a distância que estávamos de casa, e DE MOTOCICLETA!
Como disse, viagem como a nossa era rara, realmente uma aventura. Tanto que ainda me lembro de cada detalhe...